Seu telefone celular tem câmera digital com boa resolução? E tocador digital, cartão de memória e recursos de vídeos? Tem design super moderno e dimensões ultra-reduzidas? Por mais que seu aparelho apresente todas essas funções e características que o classificam como um celular completo, é bem provável que ele seja substituído em pouco tempo. Caso tenha sido adquirido recentemente, o produto deve ocupar seu bolso (ou bolsa) por um período inferior a três anos, até que seja trocado por um modelo mais fino, mais bonito e com maior capacidade de armazenamento.
“Respeitadas as corretas formas de uso, o celular tem, em média, pleno funcionamento por até cinco anos. Após três anos, no entanto, a bateria tem redução de 40% em seu desempenho, mas essa peça pode ser substituída, aumentando o tempo de vida do aparelho. Em relação à troca motivada pelos usuários [e não pelas condições do telefone], estima-se que, no Brasil, a média de tempo fique em torno de 18 a 20 meses”, diz André Varga, gerente de produto da área de telecom da Samsung.
Henrique Freitas, gerente de produtos da Motorola, afirma que os fatores determinantes para um consumidor substituir seu telefone são portabilidade, aparência e funções, nessa ordem. Isso significa que, para a maioria dos usuários, o fato de um aparelho ser facilmente carregado é mais importante do que todas as suas funcionalidades, como câmera e tocador digital. “A portabilidade é fundamental, porque o consumidor pode esquecer sua carteira, suas chaves, mas não esquece o telefone”, conta Freitas. Além disso, ele ressalta a importância da aparência: “primeiro o usuário observa o design, depois ele quer saber quais as funções do modelo”, conta.
Pela maior durabilidade dos aparelhos fabricados atualmente, eles não necessariamente vão para o lixo quando descartados por seus usuários. É comum que os telefones sejam repassados para outros membros da família, guardados como aparelhos reserva ou, com menos freqüência, revendidos para outros consumidores.
Promoções
Nesse setor de alta rotatividade, as operadoras de telefonia móvel têm papel fundamental, pois apostam em ofertas agressivas para promover vendas casadas de seus serviços e novos modelos de telefones. Geralmente, é nessa situação que, ao passar em frente à loja, o cliente considera trocar o “tijolo” adquirido há poucos meses por um aparelho mais fino, mais bonito e com mais funções. A estratégia funciona: segundo a consultoria IT Data, em 2006 a venda de replacements (substituições) no Brasil superou pela primeira vez a comercialização de aparelhos para novos assinantes.
Essa tendência está ligada ao fato de o consumidor querer sempre mais, e o produto custar cada vez menos. “O celular está virando um equipamento de entretenimento, que une diversos eletrônicos em um único produto. O usuário vai querer essas novidades: é uma questão de tempo e preço”, acredita Ivair Rodrigues, diretor da IT Data. Com isso, os especialistas acreditam que o tempo de troca dos aparelhos vai diminuir ainda mais, já que, com mais funcionalidades, o apelo da substituição tende a aumentar. “O celular é como um buraco negro: ele absorve as funções de todos os outros eletrônicos portáteis, como câmera e tocador digital”, define Freitas, da Motorola.
Ilimitado
Segundo os especialistas ouvidos pelo G1, a convergência desses equipamentos não tem limite: sempre haverá algo de novo para ser integrado aos telefones portáteis e, conseqüentemente, um novo motivo para trocar de aparelho. Além disso, sua capacidade de armazenamento cresce de maneira exponencial, fazendo com que os usuários contem com eles para arquivar dados, aumentando a relação de dependência que têm com o produto.
Varga, da Samsung, lembra que um dos primeiros modelos comercializados pela fabricante no Brasil tinha memória interna de cerca de 10 KB, destinadas para dados de agenda e mensagens de texto. Atualmente, os modelos mais baratos e simples utilizam memória de 600 KB. Os aparelhos básicos com multimídia vêm com 2 MB, enquanto os mais avançados apresentam 96 MB, além de capacidade de expansão por cartão de memória. “Nos primeiros aparelhos, a memória não era tão importante, pois destinava-se apenas a armazenar dados de agenda. Posteriormente, com o advento de novas funcionalidades, ela passou a fazer diferença, principalmente para suporte a benefícios baseados em funções de multimídia”, explica Vargas.
A tendência é que a capacidade de armazenamento continue aumentando, levando para o setor dos telefones celulares a lei de Moore, aplicada aos processadores -- segundo ela, os chips dobram sua capacidade a cada 18 meses. “Hoje temos cartões de 4 GB, mas acredito que no período de um ano e meio estaremos falando em 10 GB. Esse crescimento não vai parar, porque sempre surgem novas tecnologias de compactação que permitem o armazenamento de mais dados, por um preço menor. Onde antes cabia 1 GB, hoje cabem 10 GB, e assim por diante”, afirma Freitas.