domingo, 25 de março de 2007

Pescadores não conseguem pagar dívida


Mais de 95% dos pescadores filiados a Colônia de pescadores da Z-20 em Santarém, que fizeram financiamento do governo federal nos anos de 1998 a 2002, estão inadimplentes com o Banco da Amazônia (Basa). De acordo com o diretor Relações Públicas da entidade, Alberto Costa, o problema afetou a credibilidade da entidade que não poderá participar de outros projetos disponibilizados pelo governo federal. 'É uma questão preocupante, uma vez que os demais pescadores não poderão apresentar projeto e requerer novos financiamentos, já que a Z-20 não tem créditos com o Banco', lamenta Alberto Costa.
No ano de 1998, o governo federal através do Fundo Constitucional de Apoio do Norte (FNO), concedeu financiamento para mais de 180 pescadores filiados a Z-20 que através de seus núcleos de apoio, realizaram projetos pedindo que disponibilizassem recursos para a compra e aquisição de materiais de pesca como malhadeiras, isopores, canoas e barcos. Os financiamentos variavam de três a trinta mil reais. Passados os dois anos de carência, apenas 20% dos que conseguiram o empréstimo já quitaram suas dividas com o banco.

Outro financiamento concedido foi o do Programa Nacional de Apoio a Agricultura Familiar - PRONAF, que disponibilizou para mais de 100 pescadores uma quantia de R$ 1 mil com carência de um ano. Somente 50 deles já estão quites.

O Diretor da Z-20 acredita que o principal motivo que levou os pescadores a chegarem até a inadimplência seriam os longos prazos de carência disponibilizados pelos programas de financiamento. 'O tempo de carência fez com que os pescadores se acomodassem e por via de conseqüência não se prevenissem para pagar o débito', explica o diretor, acrescentando que outra grande falha, seria a falta de técnicos formados para assessorar os pescadores na utilização do dinheiro. 'Compare, um isopor custa em média R$ 300, e se destrói em menos de um ano. Um pescador que fez um financiamento de R$ 1 mil comprou três isopores de tamanhos distintos e tem apenas um ano para arrecadar este dinheiro e pagar o Banco. Seria necessário que um técnico estivesse lhe assessorando para que pudesse economizar nos gastos e juntar essa 'grana' para pagar o financiamento. No entanto, nada disso aconteceu. Grande parte deles deixou o tempo passar, o isopor se acabar e não aproveitou o tempo de carência', afirma o diretor.

Devido às inúmeras reclamações dos outros filiados da Z-20, que estão indignados, uma vez que gostariam de fazer novos financiamentos, a colônia resolveu se mobilizar e reunir os pescadores e o Banco da Amazônia para que pudessem renegociar o débito, dando-lhes uma segunda chance. 'Reunimos as partes interessadas e decidimos ajudá-los mais uma vez. Esperamos que tudo dê certo para que o nosso crédito possa ser retomado', aguarda ansiosamente Alberto.

Seu Pedro Moreira Mota, morador da comunidade de Bom Jesus no Lago Grande, está preocupadíssimo com seu filho Marcos Mota, que financiou a compra de um barco de aproximadamente 12 metros juntamente com um kit completo de materiais de pesca e ainda não quitou sua dívida. 'Nossa é uma irresponsabilidade tamanha. Meu filho financiou um barco e não se preocupou com a carência. Agora, já gastou todo o dinheiro que arrecadou com a pesca e não pode pagar o financiamento, uma vez que o barco já está velho e não possui a mesma capacidade de antes, o motor está acabado, os materiais que financiou já se acabaram e, além disso, está com inúmeras dividas para pagar'.

Seu Raimundo Ferreira, morador da comunidade de Tapará, está indignado com a situação. 'Você acha que eles ainda vão pagar esse financiamento? Já destruíram tudo. Os barcos estão acabados e eles não possuem outra fonte de renda', diz o pescador, revoltado, porque ele seria um dos próximos a requerer o financiamento. Entretanto, em virtude do índice altíssimo de inadimplência o crédito foi cortado e a colônia não poderá trazer novos projetos para entidade.

Alesandra Branches

Nenhum comentário: