sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Cientistas do Instituto de Pesquisa da Amazônia (Inpa) alertaram ontem, durante seminário na sede da instituição, para o fato de que os gases tipo efeito estufa podem elevar a temperatura na região amazônica mais que a média global nos próximos anos. De acordo com as previsões, a temperatura média na Amazônia tende a sofrer um acréscimo de 14oC até 2070, chegando a uma média diária de 50oC, o que resultaria em uma catástrofe de proporções gigantescas. Os cientistas Philip Fearnside (Cpec-foto à dir.) e Antonio Manzi (LBA-foto à esq.) foram os divulgadores do estudo, o qual alerta para a urgente sobrevida da fauna e flora amazônicas.
A estimativa é que o calor aumente, em escala planetária, cerca de 0,2ºC na próxima década, tal qual ocorreu no decênio passado em todo o mundo. Todavia, a Amazônia irá sentir mais os efeitos das emissões tóxicas à camada de ozônio, podendo sua temperatura se elevar em 2,1oC nos próximos dez anos, tendo em vista que a região está localizada na parte continental do planeta.
As altas temperaturas acarretarão em uma seca que, caso seja repetida até o ano de 2070, poderá não sustentar a maior floresta tropical do mundo, por conta dos 50ºC (um teto extremo). E mais. A problemática se estende para o futuro. Pois as conseqüências do aquecimento global para a região amazônica serão o desaparecimento de importantes espécies que compõem a biodiversidade florestal, podendo haver ainda a continuidade ininterrupta do fenômeno El Niño, acarretando em diminuição do fluxo chuvoso da região. "O que está ocorrendo é que, cada vez mais, são retirados materiais orgânicos estocados no subsolo, como petróleo e carvão mineral, os quais são queimados, resultando na emissão de carbono na atmosfera em grandes quantidades", explicou Antonio Manzi, doutor na área de mudanças climáticas e gerente do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA/Inpa).
Ele ressaltou que os resultados apresentados ontem são baseados no quarto relatório do Painel Intergovernamental em Mudança no Clima, (IPCC na sigla em inglês), em que participaram cerca de 2500 pesquisadores de mais de 130 países. Manzi explica que a concentração de gás carbônico em 2005 na atmosfera global era de 369 moléculas para um milhão de moléculas de ar. Em 2006, essa relação aumentou em 1,9 moléculas (para 370,9), o que é uma taxa de elevação preocupante, na opinião do pesquisador.
Sobre essa previsão, o cientista sustenta, por exemplo, que sem a presença desses gases na atmosfera o planeta poderia estar até 33oC mais frio - índice subdividido entre diferentes sub-regiões do planeta. "No último século, houve um acréscimo na temperatura da terra de 0,8oC, sendo 0,2oC só na última década, o que dá margem para se supor que o aquecimento global está avançando a partir de uma relação exponencial e progressiva - que poderá culminar na média diária de 50oC em determinadas regiões amazônicas em 2070", justificou. Sobre a preocupante estimativa dos 50oC de temperatura em regiões amazônicas, Manzi afirmou que "haverá um aumento de calor que acarretará em uma reação na vida vegetal, e uma das conseqüências poderá ser a intensidade das chuvas e secas, havendo ainda o desaparecimento de espécies habituadas ao clima atual".
Ele destacou ainda que o aumento da temperatura na Amazônia e nas regiões continentais no geral deverá ser maior que a média global porque sobre nos oceanos a variação climática é mais lenta. "Alguns modelos prevêem uma situação de El Niño (efeito de aquecimento das águas do oceano pacífico tropical) mais freqüente no futuro", afirmou o pesquisador, complementando que, normalmente, esse fenômeno diminui as chuvas na Amazônia e gera picos de escassez chuvosa que afetam sobretudo o regime dos rios . "Se um cenário como esse se confirmar é certo que será mudada parte da circulação da atmosfera e a Amazônia ficará mais seca, não havendo chuva suficiente para suportar uma floresta como essa", afirmou. Clima e história De acordo com Manzi, o aumento de temperatura na Amazônia teve início no século passado em função do aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, como gás carbônico (CO2) e gás metano (CH4). O efeito estufa é a elevação da temperatura média terrestre devido à excessiva concentração de gás carbônico na atmosfera, o que reduz o escape normal do calor para o espaço.

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