quinta-feira, 5 de abril de 2007

Peixes do Lago do Mapiri estão desaparecendo


Após a comprovação do alto nível de contaminação por coliformes fecais nas águas do Lago do Mapiri no município de Santarém, pesquisadores e os moradores das proximidades da micro bacia que alimenta o Rio Tapajós estão apreensivos com a possibilidade de que os peixes que se reproduzem naquele local desapareçam e os demais estejam contaminados. O assoreamento, o desmatamento e a poluição que atingem o lago contribuem significativamente para que os peixes não encontrem alimentos e nem os meios adequados para que possam se reproduzir, deixando de ser considerado para eles um berçário natural. Além disso, outro grande fator que colaborou para que os alevinos fossem desaparecendo foi a utilização de bombas artesanais para captura de peixes em massa pelos pescadores das proximidades durante as décadas de 80 e 90.

De acordo com a Doutora em Ecologia de Ecossistemas, Bióloga e Professora, Elizabete Vieira, a junção de todos esses fatores contribui para a evacuação dos peixes e conseqüentemente a degradação daquele lindo lugar. 'É triste, vermos toda aquela área desaparecendo aos poucos. As águas já estão poluídas e agora a biota populacional de alevinos pode estar comprometida, uma vez que no lago, considerado ponto de refúgio e reprodução dos peixes, foi atacado durante todos esses anos por bombas artesanais jogadas pelos pescadores', explica a doutora, acrescentando que seria necessário a realização de um manejo de pesca para que a captura seja liberada novamente.
Os pescadores da área confirmam que o pescado está sumindo. 'Se compararmos a quantidade de pescado que pegávamos antes, a diferença seria significativa. Há cerca de 10 anos, mesmo sofrendo com o ataque de bombas, os peixes continuavam na área e a pesca era proveitosa. Hoje, mal pegamos para nos alimentar', diz o pescador João Figueira, 54 anos.

Os peixes que se reproduzem no lago são base de uma cadeia produtiva que alimenta peixes bem maiores como o tucunaré, pirarucu e outros. Caso eles não consigam se reproduzir, comprometerão a vida de todas as outras, haja vista que não terão como se manter.

Comprovada a contaminação, os moradores ficaram amedrontados quanto à possível contaminação dos peixes, e agora pedem para que os órgãos ambientais façam um estudo para analisar o caso, em especial do jaraqui, espécie bastante conhecida pelos pescadores e consumidores. 'Sempre ouvimos dizer que os peixes daqui se alimentam de cocô, mais nunca ninguém se interessou em comprovar o fato. Por isso, após a constatação da contaminação das águas do lago ficamos mais preocupados ainda', disse o morador.
De acordo com Elizabete, o jaraqui é uma espécie que se alimenta de detritos e pode sim, comer restos fecais, mas não em quantidade elevada. Não obstante, alerta que se os detritos encontrados no fundo do lago forem desaparecendo, eles terão que se alimentar das fezes que transbordam das fossas negras despejadas pelos moradores e por via de conseqüência ficariam mais contaminados.
Infelizmente, todos os lagos que banham a cidade estão na mesma situação. Sofrem com a atitude imoral do homem que polui sem medo de ser sancionado. Para a pesquisadora, a solução seria a implantação de políticas públicas para que no mínimo os impactos fossem amenizados. 'O primeiro passo seria a conscientização da população e a criação de uma Secretaria Municipal de Meio Ambiente, além de um conselho formado pela sociedade civil organizada para fiscalizar essas ações', comenta a ecologista, ressaltando que estas ações devem ser imediatas para que tudo não seja destruído e o avanço do turismo na região não seja afetado. 'Já presenciei casos em que os turistas chegaram à cidade e ficaram abismados com os esgotos a céu aberto que desembocam no Rio Tapajós. Reclamavam e afirmavam que tudo seria destruído em pouco tempo. Isso é o fim para uma cidade que deseja alavancar a economia através da exploração das belezas naturais que ela oferece', concluiu.

Alesandra Branches.
Agência Amazônia

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