quarta-feira, 7 de maio de 2008

Livres para matar

Página Crítica
Inacreditável que um júri possa concluir que um crime de encomenda, claramente delineado por inúmeras provas materiais e pela própria confissão do pistoleiro, teria sido cometido sem que houvesse presença do mandante. Crime de mando sem mando, apenas com o autor material, que não teria motivação própria para executar, de forma fria e covarde, com seis tiros disparados à queima roupa, a missionária Dorothy Stang, uma anciã de mais de 73 anos, num rincão perdido e dilacerado da Amazônia brasileira.
A absolvição do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, conhecido como Bida, cobre o judiciário paraense de vergonha e voltar a expor o Pará, em nível mundial, como terra sem lei. Ele, aliás, era até a noite de ontem o único mandante, dos mais de 800 assassinatos por questões agrárias no estado, durante os últimos 36 anos, que cumpria pena na cadeia. Agora, todos estão soltos, como prova de que o crime, quando cometido pelos de cima, pode compensar.
Não terá sido mera coincidência que a libertação de Bida, que já havia sido condenado no primeiro julgamento a 30 anos de reclusão, tenha ocorrido no mesmo dia em que bispos católicos denunciassem a existência de uma lista com 300 pessoas marcadas para morrer no interior paraense. O combustível das tragédias mais que anunciadas segue sendo sempre o mesmo: a impunidade que o "julgamento" de ontem confirma com ineludível eloqüência.

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