terça-feira, 18 de setembro de 2007

Dinheiro arrecadado por empresa não é entregue aos botos

Alesandra Branches
O Estado do Tapajós
Quando os organizadores da festa do Çairé anunciaram a contratação de uma empresa - a Duetos - para ajudar na organização e arrecadação de recursos para o evento, esperava-se mais transparência e competência, mas não é o que aconteceu. O montante de dinheiro conseguido pela empresa, pela comissão organizadora e pelos botos é um mistério só menor que a aplicação destes recursos - que preferiram empresas de fora em detrimento das locais que já tinham ampla experiência com a festa.
A falta de transparência sobre o processo de arrecadação dos recursos e sua aplicação fez com que uma onde de boatos e versões se espalhasse pela cidade. Existem muitas informações desencontradas, mas estima-se que mais de meio milhão de reais tenha sido repassado para a festa, incluindo os recursos passados à comissão organizadora, à empresa Duetos e às agremiações folclóricas Boto Tucuxi e Boto Cor-de-Rosa.
Segundo informações do presidente do Boto Tucuxi, a empresa Duetos foi contratada pela Comissão de realização do Çairé, que é formada pela Secretaria Municipal de Planejamento (Seplan) e pela diretoria dos botos, com o intuito de dar somente suporte para a realização do festival folclórico. Isso inclui a construção de uma infra-estrutura capaz de comportar todos que prestigiarem o evento e a contratação de bandas para abrilhantar a festa.
Segundo ele, a prefeitura doou R$ 90 mi para a realização do festival, sendo que destes, R$ 30 mil foram depositados na conta do Boto Cor-de-Rosa e mais R$ 30 mil para o Boto Tucuxi. Os R$ 30 mil restantes foram doados para a comissão da festa. Além disso, a empresa Duetos estaria captando recursos com empresas privadas, dentre elas a Cargill e a Schincariol, que juntas doaram R$ 20 mil, sendo R$ 70 mil da cervejaria e R$ 50 mil da Cargill.
De acordo com Luiz Alberto, todo recurso arrecadado é direcionado para o evento e posteriormente distribuído entre os entes da coordenação. Na quinta-feira, 13, a Secretaria Estadual de Cultura (Secult) liberou, através de convênio, cerca de R$ 200 mil. Dos valores repassados pela Secult, R$ 150 mil são destinados à coordenação do Çairé e R$ 25 mil para cada boto. Além disso, o governo do estado também colaborou através da Companhia Paraense de Turismo (Paratur), liberando R$150 mil para serem distribuídos entre os botos, sendo 75 mil para cada um.
Juntando todos os recursos os botos receberam cada um R$ 130 mil, dinheiro considerado insuficiente para realizar as apresentações durante os dois dias no Lago Verde. Os coordenadores dizem que seriam necessários no mínimo R$ 300 mil para desenvolver os enredos e apresentações para a festa.
O montante de recursos somados chegou a R$ 560 mil. A comissão da festa do Çairé recebeu R$ 180 mil reais e a empresa Duetos R$ 120 mil. Estes são os números oficiais informados pelos coordenadores, mas o Banco da Amazônia e a Petrobrás também teriam repassadas gordas quantias para a realização da festa. Não se sabe quem vai pagar as bandas contratadas, se a comissão organizadora ou a Duetos. Nem quanto a empresa receberá por ter participado da coordenação.
As empresas de Santarém que todos os anos participavam da festa foram excluídas. Até mesmo os equipamentos de som foram trazidos de fora, o que deixou os empresários locais revoltados. Um deles disse á reportagem que isso fez com que o dinheiro fosse quase todo pra fora de Santarém, causando prejuízos ao município. "Uma das justificativas para se gastar tanto dinheiro público na festa é que vai gerar emprego e renda na cidade, mas como, se contratam empresas de fora que levam o dinheiro e vão embora depois da festa?", questiona o empresário.
Tanto a coordenação da festa do Çaire quanto a empresa Duetos foram procuradas pela reportagem de O Estado do Tapajós, mas seus dirigentes não demonstraram interesse em esclarecer as dúvidas que pairam sobre a destinação do dinheiro repassado à festa do Çairé.

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